quarta-feira, agosto 11, 2004

Olga!

Emocionante, Tenso, Real. Esses são só alguns dos muitos adjetivos que descrevem o livro Olga de Fernando Moras.
Acabei de lê-lo depois de muitas paradas para respirar e conseguir continuar.
Aqui escrevo a ultima carta escrita por Olga para a filha e o marido:

Queridos,
Amanhã vou precisar de toda a minha força e de toda a minha vontade.
Por isso, não posso pensar nas coisas que me torturam o coração, que são mais caras que a minha própria vida. E por isso me despeço de vocês agora. É totalmente impossível para mim, imaginar, filha querida que não voltarei a ver-te, que nunca mais voltarei a estreitar-te em meus braços ansiosos. Quisera poder pentear-te, fazer-te as tranças – ah, não, elas foram cortadas. Mas te fica melhor o cabelo solto, um pouco desalinhado.Antes de tudo vou fazer-te forte. Deves andar de sandálias ou descalça, correr ao ar livre comigo. Seu avô, em princípio, não estará muito de acordo com isso, mas logo nos entenderemos bem. Deves respeita-la e quere-la por toda a tua vida, como o teu pai e eu fazemos. Toda a manhã fará ginástica... Vês? Já volto a sonhar como tantas noites, e esqueço que essa é a minha despedida. E agora, quando penso nisso de novo, a idéia de que nunca mais poderei estreitar o teu corpinho cálido é para mim como a morte.
Carlos, querido, amado meu: terei que renunciar para sempre tudo de bom que me destes? Conformar-me-ia, mesmo que não pudesse ter-te muito próximo, que teus olhos mais uma vez me olhassem. E queria ver teu sorriso. Quero-os a ambos, tanto, tanto. E estou tão agradecida a vida por ela haver-me dado a ambos. Mas, o que eu gostaria era poder viver um dia feliz, os três juntos, como milhares de vezes imaginei. Será possível que eu nunca verei o quanto orgulhoso e feliz te sentes por nossa filha?
Querida Anita, meu querido marido, meu Garoto: choro debaixo das mantas para que ninguém me ouça, pois parece que as forças hoje não conseguem alcançar-me para suportar algo terrível. É precisamente por isso que esforço-me para despedir-me de vocês agora, para não ter que faze-lo nas ultimas e dificies horas. Depois desta noite, quero viver para esse futuro tão breve que me resta. De te aprendi, querido, o quanto significa a força de vontade, especialmente se emana de fontes como as nossas. Lutei pelo justo, pelo bom, e pelo melhor do mundo. Prometo-te agora, ao despedir-me, que até o ultimo instante não terão por que se envergonhar de mim. Quero que me entendam bem: preparar-me para a morte não significa que me renda, mas sim saber fazer-lhe frente quando ela chegue. Mas, no entanto, podem ainda acontecer tantas coisas... Até o ultimo momento manter-me-ei firme e com vontade viver.Agora vou dormir para ser mais forte amanhã. Beijo-os pela ultima vez.
Olga
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